25 de maio de 2015

Um desabafo


A minha avó teve 4 filhas, ela própria tinha outro tanto de irmãs. Não sei se foi por influência familiar ou se era apenas uma questão de feitio, certo é que cresci a pensar que quem ditava as regras lá de casa era ela. O coração traiu-lhe tinha eu uns 10 anos mas não creio que me tivesse enganado à cerca dela. O meu avó tinha um caso sério com a bebida, tão sério que não a largava, e era a minha avó quem geria a casa e os destinos das filhas. A minha mãe, a mais velha das 4, começou a trabalhar com 10 anos. De tão pequena e franzina que era, não tiveram a coragem de a mandar para o campo, antes puseram-na a fazer as tarefas “mais simples”, como aquecer e preparar os almoços de quem lavrava os campos. Pouco se fala disto lá em casa, as recordações da minha mãe estão cheias de mágoas de uma infância roubada.
Perdi-lhes o rasto da história e encontro-as outra vez às 4 em Paço-D’arcos , Cruz Quebrada, Oeiras. Onde o meu avó foi colocado como chefe da estação. Notas soltas sobre o que aquelas 4 faziam... que iam pescar camarão (será?), com uma cabeça de chicharro, dos passeios que davam com os primos, cujas recordações ficaram estampadas nas fotos a preto e branco onde aparecem de saia rodada (a minha mãe garante que a dela era amarela) e casaquinho de malha, do desejo da minha mãe que gostava de ter 500 escudos para ir à loja do arco, em Algés, comprar o enxoval para se casar, etc, etc.. Cresci com as quatro ao redor. Uma mãe e 3 tias, igual a quatro mães. Uma soma pouco aritmética mas que se multiplicou por cada um dos 8 primos. Não tenho dúvidas que elas são os quatro pilares que mantém a nossa família unida. Um desses pilares em breve vai nos deixar. Dizem-nos os médicos, garantem-nos as estatísticas e vemo-lo com os nossos olhos, ainda que na verdade não o queiramos ver.
Mas não é só a pessoa que tenho medo de perder, é tudo o que isso significa para mim: Família, Infância, Amor. E meu medo de falhar e de recriar tudo isto para a Leonor.

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